O que em mim pensa está sentindo. Vergílio Ferreira
É esperado que se nasça “de cabeça”. Mas
logo que o corpo se dá à luz e rasga o ar, somos voltados de cabeça
para baixo. Para que a nossa loucura ascendente de voar se aquiete, se
apegue ao calor e à volúpia do chão e do corpo. Implumes, desde cedo
levantamos vendavais na alquimia do silêncio, apenas interrompida pela
estrela incendiária de uma ideia. Mas a ironia celeste do vento eleva e
suspende o pensamento, que marulha lentamente como um cardume de nuvens
sobre o azul. Olho-as devagar para que não se despenhem. Até que se faça
dia. E o sol e o peso da luz indaguem as nossas asas sobre a insónia
que as excede e anima. Se ao menos o pensamento tivesse faro, quando
poisado no centro do escuro…!
Algumas palavras que ainda não existem
abeiram-se dos sonhos à procura de uma língua para relampear um ideário
de argumentos, sabendo que o esplendor e a intimidade do conhecimento
não se abrem à força nem com gula.
Como amar, é também preciso pensar com
coragem. E na maior parte das vezes, mais não é necessário do que a
nossa comprovada ignorância para engendrar o voo. Com ou sem os milagres
produzidos nessa casa elementar do esquecimento. No dorso da razão,
mato a sede na velocidade etérea da distância entre a impossibilidade e a
realidade, a contradição e o bom senso, o sentido e a memória. Memória
de elefante ou de peixe. Memória de água ou de raiz. A memória
necessária para não entender quase tudo. E sobre o nada, imaginar que
aprendo a profundidade de todas as coisas. A cabeça é uma casa que mora
lá no alto. Moinho branco de paredes circulares, sem cantos. Para que o
pensamento possa andar às voltas e às voltas e às voltas. Sem arestas
nem esquinas. Lá dentro, na penumbra, as mobílias estão arrumadas mas
com muitas gavetas demasiado cheias de ferramentas e ruído. O chão de
pedra, está vestido com uma tapeçaria geometrizada no desenho de um
labirinto de ideias: ideias-brandas, ideias-contundentes, ideias-chave,
ideias-idiotas… Em cima, sobre a ausência do tecto, há um telhado de
telhas grossas mas por onde perpassam réstias de espanto e assombro
pelas frestas de uma luz volátil que multiplica o ar. Pela porta fechada
esgueiram-se rasteiras, como um carreiro de formigas, as nossas
certezas.
Gosto de sentar-me cá fora e ficar a
olhar para a lisura e o linho das velas brancas que giram. Simplesmente
giram. Respondendo ao desejo de leveza sem descolar do chão. Abraçando o
vento que, sem pensar, vai alinhavando sementes na sabedoria da
terra. Ema
02. Massive Attack |Psyche
03. Thomas Feiner | Yonderhead
04. Lykke Li | This trumpet in my head
05. Near the Parenthesis | Your subconscious condition
06. Kwoon | Schizophrenic
07. Emma-Louise | Jungle
08. She Wants Revenge | Out of control
09. Massive Attack | One thought at the time
10. Lali Puna |Don´t think
11. Sneaker Pimps | Think harder
12. Pixies | Where is my mind
13. Madrugada | A deadend mind
14. Goldfrapp | Lovely head
15. Jeff Buckley | Satisfied mind
16. Muse | Thoughts of a dying atheist
17. Rise of Day | Sadness in my mind
18. Lali Puna | Rest your head
19. Soap & Skin | Sleep
20. The Walkabouts | Blue head flame
21. Marble Sounds | A new breeze
22. Laura | We are mapping your dreams
23. God is an Astronaut | Infinite horizons
MP3 | ZIP
Imagem: Angiogram Human Head, Allposters
Em DEZEMBRO: LÁBIOS Ficamos à espera de um “beijo” vosso!
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