quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Lábios



O impronunciável é o horizonte do que é dito.
António Ramos Rosa

Os lábios são para beijar. Para dizer o impronunciável num beijo. Porque um beijo nunca é acidental. Mesmo quando o meu olhar resvala e poisa na tua boca. Antecipando beijos de chegada ou de partida. Beijos que aquietam ou assaltam.
Lemos nos lábios as palavras que não proferem som. Prolongando o seu sabor num sopro ou suspiro. Decifrando-as na língua e no hálito do silêncio. Nos lábios. Esboçando o seu vulto de pronúncia tão nua como as uvas sem pele. Como os astros debruçados sobre as águas. Como a tua mão poisada no vidro da janela.
Um beijo é um barco. Atravessa e junta as margens das águas que soltam uma voz que estremece, mas não desfolha o verbo. O rosto inclina-se e abandona-se sobre a ondulação dos lábios que dispõem e desalinham o eco do interior das coisas entre a terra e o mar. Sobre os olhos que se fecham na evidência da noite à deriva do beijo. Libertando o instante que conduz o barco na maré do desejo.
Rente à pele e à beira-mar, rouca de sede, aguardo pelos teus lábios. Lugar de viagem incerta e inebriante. Uma brisa lenta desvenda e acende a floração do incêndio. Espero pela convergente tempestade. Pela vertigem do vento. Para beber da tua boca. Até à embriaguez.
Sobre a luz e a lisura do azul, ficamos calados. Flutuando à tona de um beijo de águas profundas. De boca muda, espreguiçando os lábios num sorriso. Leito e deleite sem fim, o teu sorriso. Os lábios são para sorrir.
Ema

01. Echo and the Bunnymen | Lips like Sugar
02. Still Corners | French kiss
03. Fiona Apple | The first taste
04. Wildbeasts | We still got the taste dancin´on our tongues
05. ST. Vincent | Your lips are red
06. The Czars | Zippermouth
07. Violet Indiana | Air kissing
08. Tom Waits | The first kiss
09. Zbigniew Preisner | Premier basier
10. Martina Topley-Bird | Sandpaper kisses
11. JB Newman| Kiss me (Tom Waits cover)
12. Ilya | Guilty Kisses
13. Sarabeth Tucek | Blowing kisses
14. Grizzly Bear | He hit me (And it felt like a kiss)
15. Amurekimuri | The smile
16. The Cure | Just one kiss
17. Hope Sandoval | Around my smile
18. Philip Glass | The Kiss
19. Leonard Cohen | A thousand kisses deep
20. House of Wolves | 50´S
21. Azure Ray | We exchanged words


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Imagem: Jonathan Steele, One Thousand Two Lips

Em Janeiro: RESPIRAR

domingo, 20 de novembro de 2011

Bodystories - DMT Music Session 2



01. Ry Cooder | Paris, Texas
02. Lowercase Noises | The things your eyes have seen
03. Sébastien Schuller | Wolf
04. Penguin Café Orchestra |Telephone and rubber band
05. Peter Gabriel |The feeling begins
06. Penguin Café Orchestra | Air à danser
07. Codes in the clouds | Where dirt meets water
08. Michael Nyman | Dan
09. Pascal Comelade | Honky tonk women
10. Parachutes | Where were you?
11. The Last Days | Make the change
12. Brian Eno | Dense Air
13. Peter Gabriel |Of these, Hope
14. Michael Nyman | Debbie
15. Erik Satie | Gymnopédie No.2
16. The Polar Dream | Endless tales


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Painting:  Paul Klee, Haupt-und Nebenwege (Caminhos principais e caminhos secundários)

Thank you ANDREA OLSEN for your wonderful book, BODYSTORIES

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

O Corpo e as Horas



by TONY JUSTERINI

01.  Mário Cesariny | You Are Welcome To Elsinore
02.  Honeyroot | Love Will Tear Us Apart
03.  Max Richter | Horizon Variations
04.  Max Richter | The Trees
05.  ( Morrissey | Dear God Please Help Me )
06.  Nico | My Funny Valentine
07.  Brian Eno | The Real
08.  Aughra & Mosh Patrol | The More Things Change…
09.  Guilty Ghosts | Mists & Tides
10.  The Tiger Lillies | Stick to Their Plan
11.  Immanu El | While I'm Reaching For You
12.  Gregor Samsa | Du Meine Leise
13.  Brian Eno | Pour it Out
14.  Bosques de mi Mente | Es Un Sombrero
15.  Epic45 | Against The Pull Of Autumn
16.  Roger Eno | Reflection
17.  Dakota Suite & Emanuele Errante | Away From This Silence
18.  Mário Cesariny | Pastelaria
19.  June Tabor & Oysterband | Love Will Tear Us Apart


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Photo: Esther S.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Ideação



O que em mim pensa está sentindo.     Vergílio Ferreira 

É esperado que se nasça “de cabeça”. Mas logo que o corpo se dá à luz e rasga o ar, somos voltados de cabeça para baixo. Para que a nossa loucura ascendente de voar se aquiete, se apegue ao calor e à volúpia do chão e do corpo. Implumes, desde cedo levantamos vendavais na alquimia do silêncio, apenas interrompida pela estrela incendiária de uma ideia. Mas a ironia celeste do vento eleva e suspende o pensamento, que marulha lentamente como um cardume de nuvens sobre o azul. Olho-as devagar para que não se despenhem. Até que se faça dia. E o sol e o peso da luz indaguem as nossas asas sobre a insónia que as excede e anima. Se ao menos o pensamento tivesse faro, quando poisado no centro do escuro…!
Algumas palavras que ainda não existem abeiram-se dos sonhos à procura de uma língua para relampear um ideário de argumentos, sabendo que o esplendor e a intimidade do conhecimento não se abrem à força nem com gula.
Como amar, é também preciso pensar com coragem. E na maior parte das vezes, mais não é necessário do que a nossa comprovada ignorância para engendrar o voo. Com ou sem os milagres produzidos nessa casa elementar do esquecimento. No dorso da razão, mato a sede na velocidade etérea da distância entre a impossibilidade e a realidade, a contradição e o bom senso, o sentido e a memória. Memória de elefante ou de peixe. Memória de água ou de raiz. A memória necessária para não entender quase tudo. E sobre o nada, imaginar que aprendo a profundidade de todas as coisas.  A cabeça é uma casa que mora lá no alto. Moinho branco de paredes circulares, sem cantos. Para que o pensamento possa andar às voltas e às voltas e às voltas. Sem arestas nem esquinas. Lá dentro, na penumbra, as mobílias estão arrumadas mas com muitas gavetas demasiado cheias de ferramentas e ruído. O chão de pedra, está vestido com uma tapeçaria geometrizada no desenho de um labirinto de ideias: ideias-brandas, ideias-contundentes, ideias-chave, ideias-idiotas… Em cima, sobre a ausência do tecto, há um telhado de telhas grossas mas por onde perpassam réstias de espanto e assombro pelas frestas de uma luz volátil que multiplica o ar. Pela porta fechada esgueiram-se rasteiras, como um carreiro de formigas, as nossas certezas.
Gosto de sentar-me cá fora e ficar a olhar para a lisura e o linho das velas brancas que giram. Simplesmente giram. Respondendo ao desejo de leveza sem descolar do chão. Abraçando o vento que, sem pensar, vai alinhavando sementes na sabedoria da terra.   Ema

01. Arcade Fire | My body is a cage
02. Massive Attack |Psyche
03. Thomas Feiner | Yonderhead
04. Lykke Li | This trumpet in my head
05. Near the Parenthesis | Your subconscious condition
06. Kwoon | Schizophrenic
07. Emma-Louise | Jungle
08. She Wants Revenge | Out of control
09. Massive Attack | One thought at the time
10. Lali Puna |Don´t think
11. Sneaker Pimps | Think harder
12. Pixies | Where is my mind
13. Madrugada | A deadend mind
14. Goldfrapp | Lovely head         
15. Jeff Buckley | Satisfied mind
16. Muse | Thoughts of a dying atheist
17. Rise of Day | Sadness in my mind
18. Lali Puna | Rest your head
19. Soap & Skin | Sleep
20. The Walkabouts | Blue head flame
21. Marble Sounds | A new breeze
22. Laura | We are mapping your dreams
23. God is an Astronaut | Infinite horizons


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Imagem: Angiogram Human Head, Allposters

Em DEZEMBRO: LÁBIOS          Ficamos à espera de um “beijo” vosso!